Arquivo: Colecionador paga 800 reais por um cartão telefônico

Desde o lançamento oficial do cartão telefônico no Brasil, em junho de 1992, muitas matérias sobre a telecartofilia foram publicadas em jornais, revistas e internet.

Com o objetivo de preservar essa história, o Blog Telecartofilistas estará republicando algumas dessas matérias. Para quem ainda não leu é uma boa fonte de informação. E para quem já leu, sempre é bom relembrar.

O artigo a seguir foi publicado em 18 de março de 2004 no website da editora Ponte da Cadeia, localizada na cidade de São João del-Rei, Minas Gerais.

Apaixonado são-joanense dá R$ 800 por um cartão telefônico
Colecionadores de vários estados são aguardados no Encontro de Telecartofilia de 19 a 21 de março na Associação Comercial e Industrial

Até o final da tarde de quinta, 18, dezoito colecionadores de cartões telefônicos de cinco estados haviam reservado mesas para expor, comprar, vender e trocar exemplares no 3º Encontro Nacional em São João del-Rei de Cartões Telefônicos Usados, dias 19 a 21, das 9h às 18h, na sede da Associação Comercial e Industrial, centro da cidade. A promotora do encontro, Maria de Fátima Alves Ferreira, 49, proprietária da Telecartões Del Rei, à avenida Hermillo Alves, 146-A, diz que além de são-joanenses, “tem gente de Campinas, Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, São José dos Campos, Juiz de Fora e Manaus”. Fátima crê que até o momento do Encontro o número de participantes aumente, porque a taxa cobrada é de apenas R$ 20, que dá direito a duas mesas e oito cadeiras. Nos encontros anteriores, em 2002 e 2003, a taxa cobrada foi de R$ 100, porque tive que pagar aluguel do salão. Em 2002 tivemos cinco participantes e quinze em 2003. Esse ano a ACI cedeu o espaço”.

Fátima diz que vai montar um painel com as séries – conjuntos de cartões centrados em temas ou que formam uma imagem – mais raras: “algumas têm apenas cem exemplares em todo o mundo, chegando a custar R$ 300,00 cada, enquanto no Brasil a média é de 80 mil cartões”. A promotora anuncia que irá sortear cartões e pastas para as crianças. “É uma forma de incentivo. Estou plantando agora para colher depois. As crianças representam 30% dos cerca de 500 colecionadores são-joanenses, entre homens e mulheres”.

Além de colecionadores de cartões telefônicos, o 3º Encontro Nacional em São João terá a presença de expositores de notas e moedas – numismática – e selos – filatelia. Como São João não tem uma associação de colecionadores de cartões telefônicos, Fátima antecipa que quer criar o Clube São-Joanense de Telecartofilia. “Quero ver se até outubro consigo fundar esse clube”.

Narciso, enamorado por cartões, selos e notas

Colecionar cartões telefônicos ganhou os primeiros adeptos são-joanenses em 1994. O funcionário público aposentado Narciso Flores Neto, 60, é uns dos primeiros, senão o pioneiro. “Sou fanático por selos desde 1960. Tenho quarenta mil, todos os que já foram lançados no Brasil. Também coleciono cédulas e moedas desde 1941, quando foi lançado o cruzeiro. Tenho duas notas de cada uma sem dobrar. Em 1994 fui a um encontro de colecionadores de selos em Juiz de Fora, e quando cheguei fiquei espantado. Só eu tinha levado selos. Só tinha cartão telefônico. Aí pensei: ‘Estou na contramão’. Lá mesmo comprei alguns cartões e comecei minha coleção”.

Narciso tem 23 mil cartões, divididos por Estado, “cada Estado em uma pasta”. Para conseguir todos os cartões lançados no Brasil, Narciso tem correspondentes em todas as capitais. “Na minha casa tenho um escritório só para isso. À noite vou para lá mexer com meus cartões e fazer meus contatos. O mais importante é esse intercâmbio. Eu ligo para pessoas que eu nunca vi e converso por muito tempo. Fiz amizades em todo o Brasil, mas sem conhecer pessoalmente. Viajo muito para ir aos encontros, sempre acompanhado pela minha esposa. No último a que fui, no Espírito Santo, trouxe mais de 1500 cartões. De vez em quando conheço alguém com quem me correspondo”.

Para Narciso, “colecionar cartões é a maior cultura que existe. Quando você pega o cartão é a mesma coisa que você estar no lugar. Eles mostram todas as riquezas e belezas do Brasil”. Narciso gasta cerca de R$ 200 por mês comprando cartões, e o mais caro que já comprou foi o do atacante Romário, por R$ 800. “Nada de gosto pessoal. Comprei mesmo só para completar minha coleção”.

Fátima começou a colecionar cartões há quatro anos. “Minha loja vendia só cartões novos, e eu vi que muita gente estava comprando usados para colecionar. Meu interesse veio quando descobri que existiam encontros nacionais e internacionais para colecionadores. Tenho mais de dois mil cartões e passo o dia inteiro por conta disso. Já cheguei a passar noites inteiras arrumando minhas pastas, que separo por séries de animais, flores, fotos de São João, Tiradentes e de pessoas. Além de ser uma terapia, colecionar cartões enriquece cultural e intelectualmente”.

De acordo com Fátima, “colecionar cartões vicia. Quem começa não pára. É muito bom quando completamos séries. Já fui a vários encontros. Gasto de R$ 500 a R$ 1 mil em cada. Meu sonho é ir a um encontro internacional na Itália. Faço muitas amizades. Semana passada um menino de oito anos, de Natal, capital do Rio Grande do Norte, me mandou três cartões e pediu que eu mandasse três para ele. Gostei tanto que vou mandar mais de vinte”.

Com apenas 13 anos e colecionador há quatro, o estudante Lucas Silva Cardoso começou a colecionar cartões por influência dos amigos. “Eles colecionavam e me chamaram. Compro quase toda semana, geralmente de R$ 0,20 a R$ 0,60. O mais caro que comprei foi R$ 1,25. Também troco com meus amigos. Meus pais me apóiam e dizem para eu continuar. Todos os dias antes de dormir olho minha coleção”. Lucas foi aos outros dois encontros em São João del-Rei, “mas só para olhar”. Nesse vai “para comprar. Quando ficar mais velho pretendo ir aos encontros em outras cidades”. Segundo Fátima, as crianças gastam em média R$ 2 por semana na compra de cartões.

Ligações só na Colômbia

Para comemorar os encontros, Fátima faz séries especiais de cartões telefônicos. Cada série com quatro cartões. “No primeiro Encontro, em 2002, fizemos uma tiragem de trezentas séries de quatro cartões que, montados, perfazem a Igreja São Francisco de Assis. No 2º Encontro fizemos uma tiragem de cem séries de quatro cartões que, montados, retratam a Maria Fumaça, e cinqüenta com a Associação dos Sargentos. Esses cartões não fazem ligações telefônicas, mas o colecionador não se importa com isso. Para este 3º Encontro produzimos, na Colômbia, três séries totalizando cinco mil cartões, tiragem mínima exigida. Duas séries de quatro cartões, uma da Ponte da Cadeia e outra novamente da Maria Fumaça, e uma série de oito cartões com o Teatro Municipal, Solar dos Neves, Capela Santo Antônio, Capela de Nosso Senhor do Bonfim, Basílica Nossa Senhora do Pilar, Museu Regional, Prefeitura Municipal e a loja Telecartões Del Rei”. Os cartões que comemoram o 3º Encontro têm dez créditos cada, mas só podem ser usados na Colômbia.

Fátima diz que precisa vender as séries comemorativas “o mais rápido possível, para reaver o dinheiro investido”, já que paga tudo com recursos próprios. Os cartões feitos para o 3º Encontro serão vendidos a partir de sexta-feira, 19, na Telecartões Del Rei, à avenida Hermillo Alves, 146-A, Centro. A série com quatro cartões da Ponte da Cadeia e Maria Fumaça custará R$ 15 cada, e a série com oito cartões, R$ 25.

Cartões usados para colecionadores são vendidos na Telecartões e na loja da Viação Presidente, na Rodoviária, com preços a partir de R$ 0,10.

Autora: Juliana Costa
Foto: Fátima, organizadora do evento.

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